segunda-feira, 22 de outubro de 2012

CRÔNICA HUMORÍSTICA



Não tenho curso superior. O que eu sei foi a vida que me ensinou, e como eu não prestava muita atenção e faltava muito, aprendi pouco. Sei o essencial, que é amarrar os sapatos, algumas tabuadas e como distinguir um bom Beaujolais pelo rótulo. E tenho um certo jeito — como comprova este exemplo — para usar frases entre travessões, o que me garante o sustento. No caso de alguma dúvida maior, recorro ao bom senso. Que sempre me responde da mesma maneira? "Olha na enciclopédia, pô!"
Este naco de autobiografia é apenas para dizer que nunca tive que passar pelo martírio de um vestibular. É uma experiência que jamais vou ter, como a dor do parto. Mas isto não impede que todos os anos, por esta época, eu sofra com o padecimento de amigos que se submetem à terrível prova, ou até de estranhos que vejo pelos jornais chegando um minuto atrasados, tendo insolações e tonturas, roendo metade do lápis durante o exame e no fim olhando para o infinito com aquele ar de sobreviventes da Marcha da Morte de Batan. Enfim, os flagelados do unificado. Só lhes posso oferecer a minha simpatia. Como ofereci a uma conhecida nossa que este ano esteve no inferno.
Calma, calma. Você pode parar de roer as unhas. O pior já passou.
Não consigo. Vou levar duas semanas para me acalmar.
Bom, então roa as suas próprias unhas. Essas são as minhas...
Ah, desculpe. Foi terrível. A incerteza, as noites sem sono. Eu estava de um jeito que calmante me excitava. E quanto conseguia dormir, sonhava com escolhas múltiplas, a) fracasso, b) vexame, c) desilusão. E acordava gritando, NENHUMA DESTAS! NENHUMA DESTAS! Foi horrível.
Só não compreendo porque você inventou de fazer vestibular a esta altura da vida...
Mas quem é que fez vestibular? Foi meu filho! E o cretino está na praia enquanto eu fico aqui, à beira do colapso.
Mãe de vestibulando. Os casos mais dolorosos. O inconsciente do filho às vezes nem tá, diz pra coroa que cravou coluna do meio em tudo e está matematicamente garantido. E ela ali, desdobrando fila por fila do gabarito. Não haveria um jeito mais humano de fazer a seleção para as universidades? Por exemplo, largar todos os candidatos no ponto mais remoto da floresta amazônica e os que voltassem à civilização estariam automaticamente classificados? Afinal, o Brasil precisa de desbravadores. E as mães dos reprovados, quando indagadas sobre a sorte do filho, poderiam enxugar uma lágrima e dizer com altivez:
Ele foi um dos que não voltaram...
Em vez de:
É um burro!
Os candidatos à Engenharia no Rio de Janeiro poderiam ser postos a trabalhar no Metrô dia e noite, quem pedisse água seria desclassificado. O Estado acabaria com poucos engenheiros novos — aliás, uma segurança para a população — mas as obras do Metrô progrediriam como nunca. Na direção errada, mas que diabo.
O certo é que do jeito que está não pode continuar. E ainda por cima, há os cursinhos pré-vestibulares. Em São Paulo os cursinhos estão usando helicópteros na guerra pela preferência dos vestibulandos que terão que repetir tudo no ano que vem. Daí para o napalm, o bombardeio estratégico, o desembarque anfíbio e, pior, uma visita do Kissinger para negociar a paz, é um pulo. Em São Paulo há cursinhos tão grandes que o professor, para se comunicar com as filas de trás, tem que usar o correio. Se todos os alunos de cursinhos no centro de São Paulo saíssem para a rua ao mesmo tempo, ia ter gente caindo no mar em Santos. O vestibular virou indústria. E os robôs que saem das usinas pré-vestibulares só tem dois movimentos: marcar cruzinha e rezar.
O filho da nossa nervosa amiga chegou em casa meio pessimista com uma das provas.
Sei não. Acho que tubulei. O Inglês não estava mole.
            Mas meu filho, hoje não era inglês! Era Física e Matemática!
Oba! Então acho que fui bem.
Luis Fernando Verissímo

IMAGEM DE HUMOR

DEFINIÇÃO DE CRÔNICA



CRÔNICA    
Para Mendonça 2011 a palavra crônica vem do grego chronikós, relacionado a tempo (chrónos) e por muito tempo o termo foi utilizado para designar uma lista de acontecimentos ordenados em sequência cronológica. Com a difusão da imprensa a crônica aderiu ao jornal como o relato do dia a dia e em 1799 apareceu em Paris como “feuilletons”, fazendo uma crítica da atividade dramática. Em 1836, no Brasil, o termo traduz para “folletim” e passa a ser usado como narrativa do dia a dia e aqui se desenvolve de forma diferenciada de como se apresenta em outras literaturas.
A crônica, no Brasil, é considerada um gênero híbrido, ao qual se atribui a objetividade característica do jornalismo e a subjetividade própria da literatura. A crônica deve ser breve, subjetiva (foco narrativo em 1º pessoa do singular). O diálogo aparece na crônica como uma conversa imaginária com o leitor implícito, sendo monólogo enquanto auto-reflexão e diálogo enquanto projeção que para Carlos Drummond de Andrade, seria um monodiálogo (Drummond, apud Moisés, 1975, p. 256), devendo a linguagem ser a da atualidade.
A temática que trata está sempre relacionada com o cotidiano, daí a dificuldade de classificação como literatura a ainda muitos a denominarem “gênero menor”. Porém, em relação às crônicas contemporâneas, elas podem ser consideradas arte, uma vez que os acontecimentos do dia a dia somente são usados como pretexto para que o leitor exercite a sua capacidade criativa, contrariamente ao que acontece no jornalismo.
Um dos pontos de maior discussão sobre a crônica é em relação a sua efemeridade. Para alguns escritores, mesmo reunidas em livro, as crônicas são fugazes, mas para outros autores a fugacidade da crônica deve ser relativizada, pois obras de autores de renome foram organizadas em livro tornando-as eternas.
Segundo o crítico Eduardo Portella, a crônica apresenta-se como um fazer literário, e quando não o é, não é por causa da crônica, mas por culpa do cronista que não consegue transcender à efemeridade da notícia de jornal. Não existe estrutura na crônica, podendo ser um conto, um poema em prosa, um pequeno ensaio, ou tudo junto. Para ele os gêneros não se excluem, mas se incluem (PORTELLA apud BENDER & LAURITO,1993, p. 53).
O espaço que predomina na crônica é o urbano, o rural aparece geralmente em forma de memória de um tempo feliz. O tempo, às vezes, confunde-se com o espaço como em outros gêneros, como pode passar a ser assunto da crônica. A descrição combina muito com o gênero, pois torna grande o pequeno, e importante o trivial, já que o cronista se mete a escrever sobre tudo e, às vezes, não tem assunto.
Nas crônicas narrativas as personagens têm vida curta e são representadas por filhos, mães, primos; porém há casos em que o autor as tornam quase vivas repetindo-as em várias crônicas.
Apesar de ser um gênero de difícil conceituação, é primordial que se reconheça que é um gênero que traz temas do cotidiano, tem uma linguagem atual, tem ingredientes propriamente literários, dos quais há de se destaca o humor. A crônica tanto serve para ser apreciada num jornal ou revista, quanto para ser lida em sala de aula.

O humor na escola



O HUMOR COMO MECANISMO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
            O riso sempre esteve presente no cotidiano das pessoas, seja nas piadas contadas entre amigos, seja em determinada situação engraçada, ou às vezes nem tanto, vivida por uma pessoa, e que foi motivo de sarro para outras. De todos os animais, somente o homem, ri, e fora o riso espontâneo das crianças, para citar Paes em Konzen, a capacidade de rir está ligada intimamente à capacidade de pensar, privativa do homem, único animal racional (PAES, 1993 apud KONZEN, 2002, p.47). Ou seja, o homem não só é capaz de rir, como também é o único com condições de tomar consciência de por que o faz. Assim, é capaz de rir, até mesmo das próprias mazelas, sempre encontrando um jeito bem humorado para lidar nas mais difíceis situações. O riso funcionaria como uma espécie de contra ponto ao que está acontecendo. Uma forma de se dizer que algo não deveria ser de determinada forma, e que de alguma maneira, fugiu à normalidade, senão, não haveria motivo para rir.
O humor inteligente leva o indivíduo a inferir, comparar, confrontar e formular hipóteses, não é simplesmente o riso pelo riso, mas aquilo que motivou a rir. Então, a afirmação de que a comédia é inferior à tragédia, além de suscitar uma ideologia contrária ao pensamento crítico das pessoas, é infundada. A utilização do texto humorístico pode contribuir muito para a formação de um cidadão crítico. Além disso, desenvolve habilidades de raciocínio, através de situações prazerosas e motivadoras. Neste caso, é necessário que o professor proporcione experiências voltadas para o desenvolvimento do raciocínio.
O trajeto histórico, no entanto, mostra que a comédia não desfruta do mesmo prestígio da tragédia. Enquanto esta possui heróis e narra fatos heroicos, aquela se ocupa de acontecimentos burlescos e de cidadãos comuns. Na comédia, o senso crítico do indivíduo revela-se por meio do riso, deixando-o mais próximo da realidade dos fatos; ao contrário, a tragédia mexe com a sua emoção. Logo, pode-se dizer que o riso é uma manifestação do pensamento crítico, só ri quem consegue compreender e analisar uma dada situação e o que ela sugere.
Para Solé (1998, p. 91), as situações de leitura mais motivadoras também são as mais reais, aquelas em que a criança lê para se libertar, para sentir o prazer de ler. Neste caso, é importante iniciar o trabalho com textos humorísticos desde o ingresso da criança em sala de aula, aprofundando no decorrer de sua vida escolar.

Saudações

Olá! Bem vindos ao blog O RISO EM FOCO, cujo o objetivo é discutir as crônicas engraçadas, trabalho este desenvolivido na Produção Didático Pedagógica do PDE 2012, na disciplina de Língua Portuguesa.