terça-feira, 23 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
CRÔNICA HUMORÍSTICA
Não tenho
curso superior. O que eu sei foi a vida que me ensinou, e como eu não prestava
muita atenção e faltava muito, aprendi pouco. Sei o essencial, que é amarrar os
sapatos, algumas tabuadas e como distinguir um bom Beaujolais pelo rótulo. E
tenho um certo jeito — como comprova este exemplo — para usar frases entre
travessões, o que me garante o sustento. No caso de alguma dúvida maior,
recorro ao bom senso. Que sempre me responde da mesma maneira? "Olha na
enciclopédia, pô!"
Este naco
de autobiografia é apenas para dizer que nunca tive que passar pelo martírio de
um vestibular. É uma experiência que jamais vou ter, como a dor do parto. Mas
isto não impede que todos os anos, por esta época, eu sofra com o padecimento
de amigos que se submetem à terrível prova, ou até de estranhos que vejo pelos
jornais chegando um minuto atrasados, tendo insolações e tonturas, roendo
metade do lápis durante o exame e no fim olhando para o infinito com aquele ar
de sobreviventes da Marcha da Morte de Batan. Enfim, os flagelados do
unificado. Só lhes posso oferecer a minha simpatia. Como ofereci a uma
conhecida nossa que este ano esteve no inferno.
— Calma, calma. Você pode parar de roer as unhas. O
pior já passou.
— Não consigo. Vou levar duas semanas para me
acalmar.
— Bom, então roa as suas próprias unhas. Essas são as
minhas...
— Ah, desculpe. Foi terrível. A incerteza, as noites
sem sono. Eu estava de um jeito que calmante me excitava. E quanto conseguia
dormir, sonhava com escolhas múltiplas, a) fracasso, b) vexame, c) desilusão. E
acordava gritando, NENHUMA DESTAS! NENHUMA DESTAS! Foi horrível.
— Só não compreendo porque você inventou de fazer
vestibular a esta altura da vida...
— Mas quem é que fez vestibular? Foi meu filho! E o
cretino está na praia enquanto eu fico aqui, à beira do colapso.
Mãe de
vestibulando. Os casos mais dolorosos. O inconsciente do filho às vezes nem tá,
diz pra coroa que cravou coluna do meio em tudo e está matematicamente
garantido. E ela ali, desdobrando fila por fila do gabarito. Não haveria um
jeito mais humano de fazer a seleção para as universidades? Por exemplo, largar
todos os candidatos no ponto mais remoto da floresta amazônica e os que
voltassem à civilização estariam automaticamente classificados? Afinal, o
Brasil precisa de desbravadores. E as mães dos reprovados, quando indagadas sobre
a sorte do filho, poderiam enxugar uma lágrima e dizer com altivez:
— Ele foi um dos que não voltaram...
Em vez
de:
— É um burro!
Os
candidatos à Engenharia no Rio de Janeiro poderiam ser postos a trabalhar no
Metrô dia e noite, quem pedisse água seria desclassificado. O Estado acabaria
com poucos engenheiros novos — aliás, uma segurança para a população — mas as
obras do Metrô progrediriam como nunca. Na direção errada, mas que diabo.
O certo é
que do jeito que está não pode continuar. E ainda por cima, há os cursinhos
pré-vestibulares. Em São Paulo os cursinhos estão usando helicópteros na guerra
pela preferência dos vestibulandos que terão que repetir tudo no ano que vem.
Daí para o napalm, o bombardeio estratégico, o desembarque anfíbio e, pior, uma
visita do Kissinger para negociar a paz, é um pulo. Em São Paulo há cursinhos
tão grandes que o professor, para se comunicar com as filas de trás, tem que
usar o correio. Se todos os alunos de cursinhos no centro de São Paulo saíssem
para a rua ao mesmo tempo, ia ter gente caindo no mar em Santos. O vestibular
virou indústria. E os robôs que saem das usinas pré-vestibulares só tem dois
movimentos: marcar cruzinha e rezar.
O filho
da nossa nervosa amiga chegou em casa meio pessimista com uma das provas.
— Sei não. Acho que tubulei. O Inglês não estava
mole.
Mas
meu filho, hoje não era inglês! Era Física e Matemática!
— Oba! Então acho que fui bem.
Luis
Fernando Verissímo
DEFINIÇÃO DE CRÔNICA
CRÔNICA
Para
Mendonça 2011 a palavra crônica vem do grego chronikós, relacionado a
tempo (chrónos) e por muito tempo o termo foi utilizado para designar uma lista
de acontecimentos ordenados em sequência cronológica. Com a difusão da imprensa
a crônica aderiu ao jornal como o relato do dia a dia e em 1799 apareceu em
Paris como “feuilletons”, fazendo uma crítica da atividade dramática. Em 1836,
no Brasil, o termo traduz para “folletim” e passa a ser usado como narrativa do
dia a dia e aqui se desenvolve de forma diferenciada de como se apresenta em
outras literaturas.
A
crônica, no Brasil, é considerada um gênero híbrido, ao qual se atribui a
objetividade característica do jornalismo e a subjetividade própria da
literatura. A crônica deve ser breve, subjetiva (foco narrativo em 1º pessoa do
singular). O diálogo aparece na crônica como uma conversa imaginária com o
leitor implícito, sendo monólogo enquanto auto-reflexão e diálogo enquanto
projeção que para Carlos Drummond de Andrade, seria um monodiálogo (Drummond, apud Moisés, 1975, p. 256), devendo a
linguagem ser a da atualidade.
A
temática que trata está sempre relacionada com o cotidiano, daí a dificuldade
de classificação como literatura a ainda muitos a denominarem “gênero menor”.
Porém, em relação às crônicas contemporâneas, elas podem ser consideradas arte,
uma vez que os acontecimentos do dia a dia somente são usados como pretexto para
que o leitor exercite a sua capacidade criativa, contrariamente ao que acontece
no jornalismo.
Um
dos pontos de maior discussão sobre a crônica é em relação a sua efemeridade.
Para alguns escritores, mesmo reunidas em livro, as crônicas são fugazes, mas
para outros autores a fugacidade da crônica deve ser relativizada, pois obras
de autores de renome foram organizadas em livro tornando-as eternas.
Segundo
o crítico Eduardo Portella, a crônica apresenta-se como um fazer literário, e
quando não o é, não é por causa da crônica, mas por culpa do cronista que não
consegue transcender à efemeridade da notícia de jornal. Não existe estrutura
na crônica, podendo ser um conto, um poema em prosa, um pequeno ensaio, ou tudo
junto. Para ele os gêneros não se excluem, mas se incluem (PORTELLA apud BENDER
& LAURITO,1993, p. 53).
O
espaço que predomina na crônica é o urbano, o rural aparece geralmente em forma
de memória de um tempo feliz. O tempo, às vezes, confunde-se com o espaço como
em outros gêneros, como pode passar a ser assunto da crônica. A descrição
combina muito com o gênero, pois torna grande o pequeno, e importante o
trivial, já que o cronista se mete a escrever sobre tudo e, às vezes, não tem
assunto.
Nas
crônicas narrativas as personagens têm vida curta e são representadas por
filhos, mães, primos; porém há casos em que o autor as tornam quase vivas
repetindo-as em várias crônicas.
Apesar
de ser um gênero de difícil conceituação, é primordial que se reconheça que é
um gênero que traz temas do cotidiano, tem uma linguagem atual, tem
ingredientes propriamente literários, dos quais há de se destaca o humor. A
crônica tanto serve para ser apreciada num jornal ou revista, quanto para ser
lida em sala de aula.
O humor na escola
O HUMOR COMO MECANISMO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM
O riso sempre esteve presente no
cotidiano das pessoas, seja nas piadas contadas entre amigos, seja em
determinada situação engraçada, ou às vezes nem tanto, vivida por uma pessoa, e
que foi motivo de sarro para outras. De todos os animais, somente o homem, ri,
e fora o riso espontâneo das crianças, para citar Paes em Konzen, a capacidade de rir está ligada intimamente
à capacidade de pensar, privativa do homem, único animal racional (PAES,
1993 apud KONZEN, 2002, p.47). Ou seja, o homem não só é capaz de rir, como
também é o único com condições de tomar consciência de por que o faz. Assim, é
capaz de rir, até mesmo das próprias mazelas, sempre encontrando um jeito bem
humorado para lidar nas mais difíceis situações. O riso funcionaria como uma
espécie de contra ponto ao que está acontecendo. Uma forma de se dizer que algo
não deveria ser de determinada forma, e que de alguma maneira, fugiu à
normalidade, senão, não haveria motivo para rir.
O humor inteligente leva o
indivíduo a inferir, comparar, confrontar e formular hipóteses, não é
simplesmente o riso pelo riso, mas aquilo que motivou a rir. Então, a afirmação
de que a comédia é inferior à tragédia, além de suscitar uma ideologia
contrária ao pensamento crítico das pessoas, é infundada. A utilização do texto
humorístico pode contribuir muito para a formação de um cidadão crítico. Além
disso, desenvolve habilidades de raciocínio, através de situações prazerosas e
motivadoras. Neste caso, é necessário que o professor proporcione experiências
voltadas para o desenvolvimento do raciocínio.
O trajeto histórico, no
entanto, mostra que a comédia não desfruta do mesmo prestígio da tragédia.
Enquanto esta possui heróis e narra fatos heroicos, aquela se ocupa de
acontecimentos burlescos e de cidadãos comuns. Na comédia, o senso crítico do
indivíduo revela-se por meio do riso, deixando-o mais próximo da realidade dos
fatos; ao contrário, a tragédia mexe com a sua emoção. Logo, pode-se dizer que
o riso é uma manifestação do pensamento crítico, só ri quem consegue compreender
e analisar uma dada situação e o que ela sugere.
Para Solé (1998, p. 91), as
situações de leitura mais motivadoras também são as mais reais, aquelas em que
a criança lê para se libertar, para sentir o prazer de ler. Neste caso, é
importante iniciar o trabalho com textos humorísticos desde o ingresso da
criança em sala de aula, aprofundando no decorrer de sua vida escolar.
Saudações
Olá! Bem vindos ao blog O RISO EM FOCO, cujo o objetivo é discutir as crônicas engraçadas, trabalho este desenvolivido na Produção Didático Pedagógica do PDE 2012, na disciplina de Língua Portuguesa.
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